Projeto Social 4any1


A 4any1 assessoria esportiva em parceria com a Nike desenvolve um trabalho social
no parque Santos Dias no Capão Redondo, atendendo mais de 150 corredores e caminhantes
semanalmente. Temos como função auxiliar a líder do projeto Neide (veja abaixo a
matéria sobre a sua vida) com a presença de um treinador 4any1 responsável em montar
os treinos, avaliar o grupo e classificar por nível de condição física, elaborar
um calendário de provas e oferecer toda a estrutura necessária como hidratação,
equipamentos esportivos e apoio técnico na montagem de todos os treinos do grupo.
Também são realizadas ações paralelas com arrecadação de roupas esportivas, tênis
usados de corrida, remédios, doação de sangue, detecção de talentos entre outras
ações. Na primeira sexta feira do mês temos a presença da Nike com a sua estrutura
para a montagem de um treinão com prêmios, aula de alongamento onde todos estão
convidados para participar.

Se você tem interesse em colaborar existem 2 maneiras:
A 4any1 realiza atividade física externa, com a presença de seu staff de professores
e profissionais da área de saúde, desenvolvendo ações que envolvem atividade física,
palestras informais sobre temas relacionados com qualidade de vida em local determinado
pela empresa. Esta atividade engloba diversas modalidades esportivas, para qualquer
nível de condicionamento físico, realizado em grupo, com o objetivo de motivar,
conscientizar e socializar os funcionários da importância e interesse em iniciar
um programa de condicionamento físico de acordo com o seu nível de condicionamento
físico e objetivo.
1º Doação mensal nos respectivos valores, R$ 50.00, R$ 100.00 e R$ 150.00.
O procedimento para a emissão dos boletos, você deve enviar uma email para a 4any1@4any1.com.br , optando por um dos valores acima para
que possa receber os boletos via email.
2º Ser voluntário na primeira sexta feira do mês para ajudar nas atividades desenvolvidas,
como também doar roupas, alimentos e tênis de corrida para o projeto.
O treinador Otávio Rodrigues de Moraes Pissolato formado pela Universidade de São
Paulo no curso de Bacharel em Esportes é responsável pelo projeto, com experiência
na prescrição cruzada de atividade física para a obtenção de resultados individuais
e em grupos.
Caso tenha alguma sugestão para o crescimento deste projeto você pode enviar suas
sugestões pelo email 4any1@4any1.com.br
com o tema projeto social
Texto abaixo escrito por Rodolfo Lucena, 52, é editor de Informática
da Folha, ultramaratonista, autor de "Maratonando, Desafios
e Descobertas nos Cinco Continentes" (ed. Record).
Sangue de corredor - Com os pés e o coração
Conheci Neide quando ela treinava às terças e quintas
no parque Ibirapuera, no final dos anos 1990. Ela era uma jovem senhora sorridente,
sempre disposta, com quem de vez em quando trocava algumas palavras do idioma do
corredor: "Vamo que vamo!", "Vamos lá". Não sabia sua profissão
nem seu sobrenome nem muito menos que morava no Capão Redondo, bairro da periferia
de São Paulo tristemente famoso pela violência _é um dos vértices do chamado Triângulo
da Morte, formado pelas regiões da zona sul com maior número de assassinatos.
Pois Neide lá morava e por lá treinava, correndo sempre no parque Santo Dias (nomeado
em homenagem ao metalúrgico morto pela PM durante uma greve em 1979). E lá descobriu
sua vocação. Não poucas vezes, enquanto trotava no parque, ouvia perguntas de outros
frequentadores, pedidos de orientação sobre exercício, atividade física, corrida.
Ela, que conhecia o atletismo pela própria experiência, pelo tanto que aprendera
com seu treinador e com outros corredores, respondia, dava uma dica. Aos poucos,
tinha um grupinho de corredores sob sua orientação.
De lá para cá, mais de 500 pessoas passaram pela Equipe de Corredores do Parque
Santo Dias _a maioria delas mulheres. Hoje, o grupo liderado por Neide não só pratica
corrida, mas também solidariedade. Recolhem alimentos que distribuem para os menos
favorecidos da turma. E três vezes por ano saem do Capão Redondo para oferecer vida
para desconhecidos, doando sangue no Hospital de Clínicas (foto Ayrton Vignola/Folha
Imagem), como fizeram na semana passada, em uma viagem que acompanhei e que rendeu
histórias emocionantes e edificantes.
Começo com a trajetória de Neide, como é conhecida Marineide Santos Silva, 48, baiana
de Porto Seguro, que veio para São Paulo com cinco anos e aqui construiu sua vida
e mudou a história da vida de dezenas de pessoas.
+CORRIDA - Como era sua vida na Bahia e por que sua família veio para São Paulo?
NEIDE - Minha família tinha uma fábrica de farinha. Eles plantavam
mandioca, colhiam, fabricavam a farinha e viviam disso. Era uma família simples.
Não eram fazendeiros. Eles pegavam empreitadas: plantavam, colhiam e depois dividiam
o lucro com os donos da terra. Éramos em seis irmãos, uma família de nordestinos
de seis irmãos. Um dia, as terras foram vendidas para outras pessoas, e aí a família
não tinha mais sustento e veio tentar a vida em São Paulo. Meu pai foi tentar a
vida na Serra Pelada, e minha mãe ficou aqui com seis filhos para criar. E, nisso
tivemos uma notícia que estávamos sem pai, que ele tinha morrido de malária. Então
as crianças também precisaram ajudar. Aos nove anos de idade, eu já trabalhava no
próprio bairro. Aprendi a costurar, fazer bainhas de calça, ganhava moedas de dez
centavos _no dinheiro de hoje, era R$ 1 por barra.
+CORRIDA - E você sempre morou ai na Zona Sul?
NEIDE - Sempre morei no Capão Redondo. Morava no Jardim Ângela,
que é vizinho do Capão Redondo. Aos 14 anos, comecei a fazer esporte no colégio.
Mesmo sem ter altura, jogava vôlei, basquete, handebol. Foi quando aconteceu um
campeonato entre colégios e entrou o atletismo. Foi a ultima coisa que eu experimentei,
e aí todas as baterias que tinha quem ganhava? Eu. E aí comecei a pegar gosto pelo
esporte. Mas acontece que, aos 14 anos, tive também o primeiro registro em carteira,
era um laboratório farmacêutico. E então só dava para treinar aos sábados, porque
eu trabalhava de dia e estudava à noite.
+CORRIDA - Quando começou o projeto no Capão Redondo?
NEIDE - O projeto começou em 1999. As pessoas, lá no parque, queriam
saber como correr, como alongar, que roupa usar... No início de janeiro, eu falei
que ia dar orientação para eles durante 15 dias, que era o que eu tinha de férias.
Só que acabaram as férias, e eu não tive mais coragem de deixar o grupo, entendeu?
Porque eu na primeira semana comecei com seis, quando foi no final dos 15 dias,
já tinha mais de 20 pessoas.
Conversei no meu trabalho [Neide presta serviços em um escritório de decoração nos
Jardins], abri mão de 30% do salário para poder ficar com a turma no parque pela
manhã. Já eram umas 40 pessoas...
Quando foi em 2000, a mulherada começou a levar as crianças para os treinos porque
não tinham onde deixar, porque as mães do Capão Redondo são guardiãs dos seus filhos,
não é? São mulheres que abrem mão de trabalhar fora para poderem cuidar dos seus
filhos, para proteger os seus filhos. Quando foi em setembro de 2000, meu filho
mais velho morreu, foi assassinado no Capão Redondo por um menor que tinha a estatura
de uma criança.
+CORRIDA - Um assalto?
NEIDE - Foi, assaltaram e nessa tentativa de assalto assassinaram
meu filho. E aí foi caindo a ficha que dentro do Capão Redondo eu era só mais uma
da estatística, "mais uma Maria a chorar", como diz o dr. Drauzio Varella.
Mas meu filho tinha deixado um jogo pronto. E ai passaram meses e meses, eu fiz
um joguinho e ganhei um dinheirinho mínimo, não ganhei mega-sena não, ouviu? Eu
falei: vou fazer alguma coisa. Meu filho adorava o meu trabalho, e vou continuar
essa trabalho. Esse dinheirinho eu vou guardar e vou investir. Ai a partir desse
dinheirinho eu comecei a fazer inscrição, levava o pessoal para correr, já tentava
alugar um ônibus, dei o pontapé inicial, não é? Só que meu dinheiro acabou. Aí,
no grupo, quem podia ajudava com R$ 1, começamos a fazer binguinho, fazer rifa para
ir mantendo, não é? Aos poucos nós compramos colchonete, foi melhorando, compramos
som, e a coisa foi crescendo. Aí veio a necessidade de atender as crianças. Comecei
a trabalhar com a molecadinha de sábado.
+CORRIDA - E como é a participação nas corridas?
NEIDE - Nós conseguimos ajuda. Participamos em todas as corridas
do circuito das subprefeituras, que são gratuitas, e tamb‘pem participamos
de corridas em que os organizadores dão inscrições de cortesia [vários do grupo
já participaram da São Silvestre e da maratona de São Paulo.
+CORRIDA - De todo esse trabalho, o que você considera sua maior conquista?
NEIDE - Meu objetivo é incentivar a nossa comunidade local a fazer
esporte. O pessoal não tem condições de pagar academia, não pode sair de lá e ir
para o Ibirapuera. E, assim, para minha felicidade, a comunidade aceitou bem. E
a melhor conquista foi que, através do esporte, começamos a trabalhar o social.
E todos os meus alunos, os adultos todos são doadores de sangue. Nós doamos sangue
três vezes por ano. E também arrecadamos alimento: no final do mês, cada um traz
um quilo de alimento. Para você ter uma ideia nós arrecadamos mais de cem quilos
de alimentos mensal.
+CORRIDA - E aí vocês fazem o que com esses alimentos?
NEIDE - A gente dá para aqueles que tem menos condições ainda do
que nós, entendeu? Quem pode traz dois, três quilos, mas tem aqueles que nunca trazem.
Se não trazem é porque não têm como dar. A gente faz várias cestas e distribui para
aqueles que não tem.
+CORRIDA - O Capão Redondo é, sabidamente, uma área muito violenta. Nunca ninguém
do grupo foi atacado?
NEIDE - Não, não, não. O Capão Redondo não é tão feio quanto pintam.
Há alguns anos atrás estava muito difícil, mas, agora, muita coisa melhorou. Há
muitas ONGs atuando nessa região, tem a Casa do Zezinho, a do Jardim São Luís, a
Fundação Cafu, o projeto Capão Cidadão. Eu percebo que nós, da comunidade, resolvemos
não ficar de braços cruzados. Eu resolvi não ficar de braços cruzados, porque se
for esperar pelo poder público é muita promessa. Um dia alguém me vê, porque o meu
projeto, a minha mudança é a mudança social dos pés e do coração.
Sangue de corredor - parte - Calor humano
A Equipe de Corredores do Parque Santo Dias, formada por
moradores da periferia de São Paulo, tem como um de seus pontos de honra a solidariedade.
Ajudam os colegas em dificuldade, arrecadam alimentos que distribuem para os mais
necessitados do grupo e, regularmente, fazem doação de sangue. Na semana passada,
eu acompanhei a viagem de mais de uma hora desde a zona sul até Pinheiros, no Hospital
de Clínicas
Foi na quarta-feira, que acordou fria, cinzenta e chuvosa. De madrugada, até granizo
havia desabado sobre São Paulo. Cheguei à entrada principal do parque Santo Dias
às 7h, e imaginava que a tal expedição iria gorar. Mas logo chegaram um ônibus da
prefeitura e um carro do Corpo de Bombeiros, que iria abrir caminho para a travessia.
Faltavam os corredores.
Aos poucos, começaram a aparecer, sem jeito de atletas, vestidos em roupas de frio,
protegendo-se da chuva como podiam. Cumprimentavam a Neide, faziam rodinhas até
a hora da partida. Embarcamos, e eu vou conversando com um e outro.
Dona Mariá ficou dez anos praticamente sem sair de casa, reclusa. "Só levantava
para atender a campainha, só saía para fazer compras e pronto", conta ela,
que mudou de vida desde que conheceu o grupo. Hoje com 61 anos, aposentada, contabiliza
quatro São Silvestres no currículo de atleta. Além dos treinos com o grupo, também
faz musculação em uma academia do bairro, pagando R$ 40 por mês.
"Tomei uma paixão pelas corridas: fico doente o dia
que não corre. Eu me sinto muito bem", diz ela, veterana de viagens como essa:
"Eu não sabia que na minha idade podia doar, mas pode. Já vim outras vezes.
Se o meu sangue servir para alguém, vou ficar muito feliz".
Mas a ideia de entregar o braço para ser agulhado e ver o próprio sangue escorrer
por um tubo, indo embora do corpo, não é atraente para todo mundo, mesmo gente bem
mais jovem.
"Eu era meio receosa de doar sangue", diz Claudete Aparecida, 28, relembrando
a primeira vez que participou da ação. O receio foi deixado de lado: "Fui com
o grupo e gostei da sensação. Gosta de fazer alguma coisa pelos outros", diz
ela, que trabalha no Corpo de Bombeiros e é uma entusiasta da equipe de corridas:
"Corrida para mim é tudo, eu arrumei um novo sentido para a vida. Ganhei uma
família, não é só um grupo de corrida".
É semelhante ao que relata o segurança Jorge Luiz Correa, 54, conhecido como "Delegado
do Parque". Ele parou de fumar em 2002 --deu suas últimas baforadas no último
minuto do jogo do Brasil, na final da Copa do Mundo. Tempos depois, conheceu o pessoal
do parque, onde ia para caminhar, e se aproximou do grupo.
"Troquei o vício do cigarro pela corrida. Hoje, tenho pressão boa, não sou
mais fedorento...".
Ele não parava de correr. Quando trabalhava como segurança em, uma gráfica em Embu,
voltava do serviço correndo, depois de uma noite em claro. E seus tempos são muito
bons: "Na minha primeira corrida, em Itaquera, fiz os cinco km em 40 minutos,
morrendo, bufando. Hoje eu faço na metade do tempo, sem cansar". Até maratona
já fez: no ano passado, cumpriu os 42.195 metros em 3h40; neste ano, queria reduzir
a marca, mas uma fisgada na coxa fez com que concluísse a prova em 3h50 --tempo
altamente respeitável...

"Corrida faz bem à saúde, traz alegria, alegra o espírito da gente", diz.
Alegria que parece não combinar com o ar sisudo que se espera de um delegado...
É que Correa ganhou o apelido não por ter trabalhado na polícia, mas por encarnar
o personagem nas festas juninas organizadas pelo grupo. Ele atua como delegado nas
danças de Quadrilha --sorrindo sempre, como nas suas conquistas no asfalto.
Conquistas, aliás, sua vizinha de ônibus tem aos montes. "Hoje são mais de
20 medalhas", orgulha-se Maria Aparecida santa Rita, 46, que começou a correr
no ano passado: "Foi a melhor coisa que já fiz na vida. Não tem dia que eu
não corra. Eu me sinto outra pessoa. É um vício bom".
Ela vem pela segunda vez com o grupo participar da doação de sangue: "É importante,
a gente pode estar salvando uma vida".
Vidas que a corrida também salvou, de certo modo, ajudando a melhorar a disposição
e a saúde. "Depois de sete anos como aposentado, resolvi que precisava fazer
alguma coisa", conta Adeilton de Souza, 62, motorista de ônibus aposentado.
Ele estava com 81 kg, hoje contabiliza 15 a menos e festeja: "Acordo disposto,
com vontade de fazer as coisas".
Disposição que ajuda também a vida familiar, como mostra
o professor Pedro Paulo, 46, que não corre, mas aplaude a mulher, Celeste Rocha,
45, que no ano passado conseguiu pela primeira vez fazer uma corrida de 5 km inteira
sem andar nenhuma vez. Paulo participa da ação da equipe de corredores: "Não
basta ser marido, tem de doar sangue junto", brinca ele.
Pois foi brincando, brincando, que Paulo Roberto da Silva Jr., 35, arrastou a mulher,
Cristiane (na foto acima, os dois) para o mundo das corridas: "Ela ia só caminhar,
mas resolveu correr comigo, e terminamos juntos a prova", lembra ele sobre
uma prova em Guarapiranga, no ano passado.
Ele já estava no grupo desde 2006. Começou caminhando, em respeito ao seu peso de
então: 145 quilos. Mas a energia do grupo o chamou para o asfalto. Com três meses
e meio de treino e dez quilos a menos, fez sua primeira prova. Foi uma corrida de
sete quilômetros, em Interlagos. "Cheguei a comparar com um parto, de tanto
que sofri. Mas, para mim, aquilo foi o início de uma nova vida.
Hoje, como 118 kg, está "uma pluma", como diz. Acaba de marcar seu recorde
pessoal nos 10 km, que fechou em 58 minutos. E virou um divulgador incansável da
corrida: já conquistou a mulher, os dois filhos e ainda dois sobrinhos...
Quem sabe, um dia faz uma maratona...
PS.: Todas as fotos publicadas nesta reportagem são de Ayrton Vignola/Folha Imagem